Direto do Jornal Folha da Manhã


Movimento tenta salvar centenário e belo solar


Antonio Cruz
Foi deflagrado um movimento para salvar o centenário solar do Liceu de Humanidades de Campos, seriamente danificado por uma infestação de cupins e infiltrações, correndo o risco de desabar. O movimento, que já recebeu as adesões da Academia Campista de Letras (ACL), OAB-Campos, Acic e clubes de serviços, está aberto também pelas redes sociais e já chegou à Holanda e ao Canadá. Na última terça-feira (18), um encontro na escola reuniu a diretora Celina Barbosa, a professora Vera Passos, que deu início ao movimento, o professor e pesquisador Leonardo Vasconcellos, o empresário Carlos Otávio Rodrigues, o advogado Geraldo Machado, e os acadêmicos Aristides Soffiati, Vilmar Rangel e Alberto Fioravante. No final do encontro, o grupo decidiu cobrar medidas urgentes ao Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac) e ao Conselho Estadual de Tombamento, e propor uma ação civil pública junto à Defensoria Pública do Estado. Segundo Geraldo Machado, a iniciativa tem como objetivo obrigar o Estado a fazer uma restauração completa no prédio, construído entre 1861 e 1864 para a residência do Barão da Lagoa Dourada, e que passou a abrigar o Liceu em 1880.


Esta semana, o professor, pesquisador e liceísta Leonardo Vasconcellos, que acompanhou a restauração do solar entre 1999 e 2001, vai elaborar, junto ao arquiteto Humberto Neto Chagas, um laudo técnico que será enviado à secretaria estadual de Educação. Ele destaca que a queda do candelabro do salão nobre, há cerca de um ano e meio, mostra sinais claros da degradação do solar.

— A restauração foi feita pela Opera Prima, empresa responsável pela recuperação do Teatro Municipal do Rio, e teve acompanhamento do renomado arquiteto Wallace Caldas. Na ocasião, um grupo defendeu a transformação do solar em espaço cultural, vinculado à secretaria estadual de Cultura, enquanto as salas de aulas e da administração permaneceriam ligadas à secretaria de Educação. O projeto manteria o prédio permanentemente ocupado, facilitando sua conservação. Além disso, poderia ter acesso a recursos da Lei de Incentivos à Cultura, a Lei Rouanet, para a sua conservação. O projeto foi aprovado pelas duas secretarias em Campos, mas, infelizmente, não se concretizou. Houve alguma falha na passagem — explicou Vasconcellos.

Antonio CruzO professor lembra que o grupo esteve na Funarj, no Rio, para tratar da transferência do acervo iconográfico de Alberto Lamego, que está no Museu Ary Parreiras, em Niterói, para o solar do Liceu.

— Por não ser regularmente utilizado, o solar ressentiu-se da falta de conservação e foi se depreciando, chegando situação atual, onde se constatam infiltrações e ataque de cupins, levando inclusive ao risco de desabamento — observou Vasconcellos.
Por sua vez, o professor e ambientalista Aristides Soffiati, que participou da reunião, também defende um ocupação permanente para o solar. Para ele, não basta restaurar, tem que ocupar.

— Fiquei preocupado com a situação de degradação do Liceu. Espero que não acabe como o Solar dos Ayrizes, Asilo do Carmo e outros bens do patrimônio históricos do município. Acho esse movimento e esse envolvimento da sociedade muito importante — disse Soffiati.

Crítico do prédio, anexo construído junto ao solar, Soffiati cobra simplesmente a sua demolição. Para ele, o anexo desfigurou completamente o conjunto arquitetônico do Liceu.

— Não sei quem construiu “aquilo”, mas desfigurou todo o solar. Já que estão tentando restaurar o Liceu, proponho a transferência da escola para outro local, a demolição do anexo e a preservação do solar e da senzala, que fica nos fundos do prédio principal e que pouca gente sabe de sua existência. No solar, algum projeto com uma atividade permanente, para que daqui a alguns anos não tenhamos que fazer um novo movimento para recuperar o Liceu — apontou Soffiati.  

Antonio Cruz
No Chão
Com uma infestação de cupins e instalações comprometidas infiltrações, o centenário prédio do Liceu de Humanidades de Campos corre o risco de desabar. O alerta foi feito pela professora Vera Passos, ex-liceísta, que ficou indignada quando visitou a escola em novembro passado. A sua revolta foi parar na internet e acabou se alastrando, juntando ex-alunos num movimento para salvar a escola. O problema é tão grave, que o governador Sérgio Cabral se comprometeu a mandar a Campos técnicos da Emop para vistoriar o prédio. Construído entre 1861 e 1864 para a residência do Barão da Lagoa Dourada, o solar foi arrematado por uma comissão municipal em 1880 para criar o Liceu da Humanidade de Campos, que contou em sua inauguração com a presença do Imperador Dom Pedro II. Entre 1998 e 2001, passou por uma completa restauração, passando a ser uma das atrações turísticas do município, recebendo milhares de visitantes. O prédio foi tombado pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac) em 27 de janeiro de 1988.

Por seus bancos escolares passaram nomes que vieram a se tornar ilustres, como o do ex-presidente Nilo Peçanha e ainda, filósofos, médicos, prefeitos, deputados e senadores, além de artistas, músicos e poetas. Em seu primeiro dia de aula, o adolescente Nilo Peçanha levou para a sala de aula seu Galo de estimação “Tininha”. O professor ordenou que levasse o animal de volta para casa. Também ali estudaram Nina Arueira e Clóvis Tavares que, no início da década de 1930, militaram na União da Juventude Comunista. Outro aluno ilustre foi o ex-governador Anthony Garotinho, que foi eleito presidente do grêmio aos 15 anos.

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